terça-feira, 23 de junho de 2009

A NASCENTE DA REDE TEATRO D@ FLORESTA

vida não é a que cada um viveu, mas a que recorda e como a recorda para contá‑la.
Gabriel Garcia Marques.

Embevecido por esta frase-imagem do poeta Gabriel Garcia Marques, o grupo de pesquisa PACA – Pesquisadores em Artes Cênicas da Amazônia propõe o projeto Teatro d@ Floresta: Uma História do Teatro da Amazônia do Tempo Presente inscrita na Web. Este projeto pretende ser o ponto de partida para um estudo sobre as Práticas Narrativas de Processos de Criação, exercida pelos próprios artistas da cena e coletivos, mas especificamente, atores, diretores, autores, técnicos de teatro e grupos, como um meio de compreender seu fazer artístico, na perspectiva de intervir no seu próprio processo de autoformação, característico deste ofício. A prática narrativa sobre processos de criação é híbrida na sua formatação: histórias de vida, memórias, diários de trabalho ou de bordo, autobiografias e, contemporaneamente, sites, blogs e biomídias. Mas é, hipoteticamente única, em seus princípios: vencer a natureza efêmera da cena, compreendendo-a em seu processo de criação, como um legado artístico para as futuras gerações de criadores. A realização desta pesquisa, além de possibilitar a construção de um estudo sobre as práticas das narrativas centradas em processos de criação, virá a ser, a concretização de um velho sonho: colocar, em “páginas eletrônicas”, as Histórias de Vida das Obras Teatrais, como fez Stanislavski e tantos outros pensadores da cena, em páginas de papel. Desejo que esta escrita possibilite articular os pequenos traços de muitos fazeres, inscritos em tantas e diferentes materialidades (sons, textos, fotos, vídeos, desenhos, etc). Por isto, a escritura hipermidiática é, sem dúvida, uma grande opção para esta articulação de informações e, a realidade virtual \ multimidiática, uma potência na produção de novos conhecimentos que pelo novo formato, já refletem a sua inserção no contexto contemporâneo. A nossa expectativa é que a realização deste estudo me dará possibilidades para investigar uma metodologia de produção de escritas hipermidiáticas sobre processos de criação que poderá ser experimentada por outros artistas da cena. Uma metodologia que poderá revelar as verdadeiras Impressões Digitais de tantos fazeres.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

PORQUE UMA REDE VIRTUAL?

Este projeto se insere na fronteira entre a cena teatral e a cena da hipermídia. Pesquisa as Práticas Narrativas Hipermidiáticas de Processos de Criação de Artistas da Cena e de Coletivos da Amazônia disponibilizadas na Internet. Com uma abordagem metodológica de constituição híbrida, numa confluência de métodos – cartográfico e historiográfico - esta pesquisa pretende reconhecer as novas máscaras do fazer teatral na contemporaneidade - aliadas as novas tecnologias de informação e ao desenvolvimento da telemática - como uma História do Teatro do Tempo Presente, especificamente da Amazônia Paraense, como uma escrita já em processo, porém sem nenhuma visibilidade e reconhecimento acadêmico pela falta de instrumentos específicos de análise dessa nova realidade .
Na perspectiva de aprofundar meus estudos nesta área, proponho investigar as práticas narrativas hipermidiáticas dos artistas da cena e dos coletivos, não apenas como práticas que precisam ser aprimoradas, incentivadas e, principalmente, receber novas configurações que as atualizem como ações culturais contemporâneas, mas como práticas que podem responder as necessidades explícitas das artes da cena: vencer sua efemeridade, inscrevendo-se enquanto história da produção humana espetacular. E, principalmente, como uma historiografia das diferentes práticas periféricas que passam ao largo do poder artístico-cultural dominante.
Quando se fala, hoje, do poder virtual no mundo globalizado, não é mais possível desconhecer o que seja o poder da cibercultura - concentrado ou não no ciberespaço; escrito em formatos hipermidiáticos - e que muito mais que obras únicas e reprodutíveis, gera obras disponibilizáveis. Esta disponibilidade da escrita eletrônico-digital é explicitamente revelada, não apenas por seus baixos custos ou sua facilidade de copiagem, mas sim e, fundamentalmente, por seu caráter de interatividade.

DIÁLOGOS TEÓRICOS

A fundamentação teórica desse projeto está baseada na filosofia de Gilles Deleuze e Félix Guattari, mais especificamente, em sua Teoria Rizomática do Conhecimento Humano. Esta forma de produção do conhecimento é aplicável à criação artística pelos conceitos de fabulação e seus elementos estéticos, o percepto e o afecto. Para este projeto, as idéias de interatividade defendida por Lemos, deixam claras as nossas intenções:

A interatividade digital caminha para a superação das barreiras físicas entre os agentes (homens e máquinas), e para uma interação cada vez maior do usuário com as informações, e não com objetos no sentido físico.[...] Essa nova qualidade da interatividade (“eletrônico-digital”), como os computadores e o ciberespaço, vai afetar de forma radical a relação entre o sujeito e o objeto na contemporaneidade. [...] A interatividade digital, a partir dos hipertextos, fez com que os produtores culturais mudassem suas formas de concepção dos conteúdos de seus produtos. Assim, se com o “broadcasting” os produtores tinham como objetivo realizar uma programação que captasse a audiência de forma homogênea, com os novos media digitais interativos, o que está em jogo é um “metadesign”. [...] O “metadesign” deixa livre o utilizador para que ele participe também do processo de concepção. Estabelece-se, dessa forma, um processo não-linear de concepção e de utilização (interatividade)dos conteúdos.
(Lemos; www.facom.ufba.br/pesq/cyber/lemos ).

O processo de publicação do privado pelo ciberespaço; Vidas de obras em construção, abertas a tantos e variados acessos; Interação entre autor-obra-leitor, em rede; As poéticas digitais produzindo novas obras de artes; O fazer artístico com os novos recursos digitais produzindo discussões filosóficas. Todas estas questões apontam que é chegada a hora de aproximarmos as artes da cena, definitivamente, das novas formas hipermidiáticas de escrever nossas memórias. Formas que possam ir além de blogs de celebridades e que já demarcam um espaço de valor na cibercultura, tanto pela quantidade quanto pela qualidade de websites que dizem muito do teatro na contemporaneidade.
É possível que ao desterritorializarmo-nos em sites - que farão de nossas escrituras possibilidades de novas reterritoralizações criativas - revisitemos nossas criações para desconstruí-las em novos suportes e em nova materialidade, produzindo novas criações, Tudo isto de forma sempre coletivizada, pois a cada novo acesso, é a mão do usuário que, também cria e do artista que recria. Exercício fundamental para todos nós.

OBJETIVO DO PROJETO TEATRO D@ FLORESTA (META DE UM PROJETO DE PESQUISA EM ARTE DA UFPA)

Fazer uma cartografia das práticas narrativas hipermidiáticas de artistas da cena e de coletivos, disponibilizadas na internet em diferentes ambientes e gêneros digitais. A intenção é construir e gerenciar uma rede – a rede Teatro d@ Floresta - que disponibilize processos de criação e re-configure os seus rastros (documentos de processo) na perspectiva de produzir uma História do Teatro da Amazônia no Tempo Presente inscrita na Web.

Metas Objetivadas

1) Fazer uma pesquisa infográfica sobre os escritos processuais de artistas da cena da Amazônia paraense, publicados na rede (on-line) através de sites de busca, bem como, de instituições, públicas e privadas, que apresentem como política, a difusão cultural.

2) Analisar as escritas de processos de criação (sites, blogs e as biomídias em geral) na perspectiva de construir uma ciberetnografia destas novas práticas narrativas do fazer teatral na cibercultura.

3) Fazer um estudo de sistemas conceituais passíveis de serem empregados em análises da escrita hipermidiática de objetos artísticos (virtual, atual, hibridação, interatividade, efemeridade, multivocalidade, etc).

4) Investigar modelos, concepção e formatação, de narrativas digitais selecionadas da pesquisa infográfica.

5) Ampliar os campos de atuação dos artistas da cena, instituindo um território virtual de pesquisa e experimentação – a Rede Teatro d@ Floresta – bem como, estar em associação direta com tantos outros territórios virtuais.

6) Capacitar os artistas para produção de comteúdos como é o caso dos blogs construídos no projeto de extensão Observatório do Teatro na Web da Etdufpa e vinculado a esse projeto de pesquisa como ação extensionista..

7) Produzir um ensaio crítico sobre essa nova historiografia teatral.

METODOLOGIA DO PROJETO TEATRO D@ FLORESTA

1-Tipo de delineamento:

Neste projeto pretendo delinear minha pesquisa como um estudo no campo da criação artística, mais especificamente, no campo da documentação do processo criativo, em suas versões digitais na contemporaneidade.

Baseada, teoricamente, nos estudos filosóficos e estéticos Deleuzo-Guattarianos - mais especificamente, na teoria do conhecimento rizomático e na experimentação do ato de fabular - e, nos novos estudos sócio-culturais denominados de cibercultura, esta pesquisa pretende, menos explicar o fenômeno das práticas narrativas hipermidiáticas de processos de criação de artistas da cena na contemporaneidade e mais, compreende-lo.

Quanto à metodologia, o híbrido será o caráter das minhas opções metodológicas de abordagem. Será híbrida porque estará tanto à luz da prática cartográfica quanto da historiografia, assim como porque se apresenta na confluência de duas linguagens: cênica e hipermídia.

Será relevante para esta pesquisa que nós encontremos como sujeito que somos, no exercício de nossa escrita digital, o nosso próprio “modo de conhecimento prático”, ou seja, a faculdade de interpretação que todo indivíduo ou coletivo possui e põe em ação na rotina de suas atividades práticas cotidianas.


2 - Delineamento do corpus:

O objeto desta pesquisa é a prática narrativa feita por artistas da cena, sobre os processos de criação de seus coletivos - muitas vezes denominada de memórias, diários de trabalho, diários de bordo, histórias de vida - e, mais especificamente, a escrita hipermidiática (sites, blogs, biomídias, biowebs e etc), versões contemporâneas desta prática.
3 - Operacionalização das variáveis:

Nosso entendendo que no contexto das pesquisas qualitativas não há a obrigatoriedade da operação das variáveis, penso serem interessante operá-las, na perspectiva de dilatar o objeto em complexidade.

Variáveis quanto à:

Ambientes virtuais das práticas narrativas.
Focos das narrativas.
Gênero das narrativas.
Sistematização dos relatos
Suporte dos relatos
Utilização ou não de documentos de processo


Natureza dos documentos de processos (textos dramatúrgicos, roteiros, fotos, vídeos, material de pesquisa, depoimentos, entrevistas, anotações, diários, story-boards, etc).
Quantidades de processos registrados
Princípios de utilização e divulgação dos relatos
Meios de publicação.

4 - Amostragem:

Este projeto pretende buscar, nas sensíveis variáveis deste corpus, objetos e seus respectivos sujeitos-criadores que possam ampliar a produção de sentidos destas práticas. Neste intuito é necessário reconhecer escrituras digitais que representem os diversos extratos desta prática. Extrato, não no sentido de extratificação hierárquica do melhor; do poder, mas sim, do extrato; do “sumo”; do que tem a competência, do vivido e da tecnologia, para mostrar, através de sua escrita, aquele fazer singular por mais tênue que seja esta singularidade.
É necessário “vozes” entre os artistas da cena. Sigo a categorização criada para o meu objeto de pesquisa: A escrita digital ONLINE sobre processos de criação.

Caracterizada por estar disponibilizada na rede (internet).
Caracterizada por estar disponibilizada na rede (internet) com percurso pré-determinado.
Caracterizada por estar disponibilizada na rede (internet) com percurso não determinado.
Caracterizada por tempo de atualização.
Caracterizada por representação: de sujeito-indivíduo ou de sujeito-coletivo.
Caracterizada por apresentar ou não zona reservada (código de acesso limitado à autorização prévia)


Pretendemos nos colocar sempre atentos, quanto aos vários aspectos desta extratificação, para abandoná-las ou não, ou a elas juntar novos elementos. Intuímos que alguns sujeitos operam com mais de um desses extratos. Eles serão considerados nas suas mais possíveis combinações inclusive a partir das questões levantadas na problematização.

5 - Técnicas de Coleta de Dados:

Pesquisa bibliográfica e infográfica:

- Consultas on-line a bibliotecas, instituições, universidades e editoras.
- Armazenamento das informações obtidas em dispositivos eletrônicos, para posterior inclusão no hipertexto final.
- Análise de obras digitais selecionadas e adquiridas num processo descritivo-analítico com as ferramentas dos métodos de abordagem (cartográfico e etnometodológico).

Obs: Todo e qualquer material disponível na internet e, circunscrito no campo e corpus desta pesquisa, será examinado como matéria passível de linkage, no documento final. Caso isto ocorra, esses documentos sofrerão uma operação de abordagem.

6 - Etapas/ Metas dos Procedimentos de Coleta de Dados:

a) Fazer o levantamento infográfico e bibliográfico.
b) Identificar os objetos eletrônicos para a pesquisa.
c) Selecionar amostragem
d) Análise do corpus selecionado
e) Pesquisar documentos complementares
f) Re-configurar novos documentos processuais
g) Fazer experimentos de captura interativa
h) Refazer quaisquer etapas anteriores
i) Avaliar a produção da coleta de dados para o encerramento desta fase com base em material teórico/ técnico.

7 - Análise de Dados:

Como já foi argüida anteriormente, a análise dos dados seguirá duas orientações, quanto a sua natureza:
a) Análise exterior: Esta orientação sugere a análise dos dados a partir da articulação entre os métodos de abordagem escolhidos e as teorias de base da pesquisa. No caso deste projeto a Filosofia Deleuzo-Guattariana e os estudos da Cibercultura.
b) Análise interior: Esta orientação sugere que os pesquisadores fiquem atentos as noções formuladas e/ou fornecidas pelos sujeitos-criadores, bem como, pelas reflexões formuladas a partir da análise dos seus próprios processos, isto é, uma construção auto-reflexiva. A percepção dos meus próprios Etnométodos historiográficos, articulados com os de outros criadores, fornecerá as noções necessárias e orientadoras para a análise dos dados. É o próprio dado revelando o caminho de sua interpretação.